quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O SOFRIMENTO HUMANO

O  SOFRIMENTO   HUMANO

Introdução
"Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho desgosto..." Eclesiastes 2: 23
"Se eu falar, a minha dor não cessa, se me calar, qual é o meu alívio?   Jó 16: 6

É muito difícil falar sobre o sofrimento humano porque não fomos criados para sofrer.
Embora  a  dor, a angústia, e o sofrimento, sejam constantes na vida humana, nem sempre foi  assim.
Então, por que ele é latente na nossa vida?
A resposta é; o sofrimento tem a ver com o mal!! Ele é resultado de numa atitude má tomada pelo pai federal da humanidade-Adão, resultando na entrada do mal, na vida da raça humana, como  resultado direto da desobediência de uma ordem do Criador à sua criatura lá  no Jardim do Éden.

Estado natural

A desobediência maculou o estado de pureza, bondade e incorruptíbilidade em que fomos criados,
tornando a raça humana, impura, corrupta e má. Se cremos nisso ou não, pouco ou absolutamente
nada, importa porque esta é uma verdade absoluta e indiscutível  ESTABELECIDA PELO DEUS CRIADOR  e é aceita como tal, pelo menos pela totalidade das religiões cristãs ocidentais.
Entretanto, não há concordância sobre essas afirmações bíblicas, uma vez que entre as religiões orientais,  essas questões  são divergentes por muitas razões básicas, as quais citaremos apenas as mais importantes:
primeiro - a Bíblia não é aceita como Palavra de Deus;
segundo, a Bíblia para eles é um livro recente se comparado com suas literaturas;
terceiro, porque a Bíblia não fala em carma, reencarnação, e deuses que devem ser adorados;
quarto, porque ela narra  a história de um povo hebreu desconhecido, em um continente distante, que pouco ou nada tem a ver com eles;
quinto, porque fala de um plano divino de salvação da humanidade através de um Messias desconhecido, que é inconcebível pelas suas religiões animistas, que entendem ser o homem capaz de se aperfeiçoar e alcançar a plenitude( o Nirvana), por conta própria;
sexto, porque esse Messias seria único mediador capaz de redimir o ser humano, a partir do arrependimento e confissão de seus  pecados, e isto é contrário às suas religiões panteístas, politeístas e deístas, onde não existe a consciência de pecado, queda, necessidade de arrependimento, redenção, etc.
sétimo, porque esse Criador não faz acepção de pessoas, dá extraordinário valor a todos os seres humanos, dá total valor à personalidade humana, e enaltece o caráter particular de cada um, sem discriminação, separação por castas, divisões e subdivisões de grupos, valorizando pessoalmente a todo e qualquer indivíduo de qualquer raça, língua nação ou tribo,  seja ele amigo ou inimigo com base no AMOR ÁGAPE (que é o amor sacrificial - aquele amor no qual Jesus morreu  por toda a humanidade), distinguindo a raça humana apenas em dois grupos; os crédulos e os incrédulos.
Tudo isto é contrário às ideologias  animistas, politeístas e deístas orientais.
oitavo, porque este plano salvífico narrado na Bíblia, apresenta dois destinos ao homem:

o CÉU, aos que perseverarem na doutrina de Cristo até ao fim, apesar das lutas contra o mal, do sofrimento quando ele ocorre, da angústia quando ela sobrevêm, da dor quando ela  nos acomete, etc.,

e o INFERNO, àqueles que rejeitarem as sãs doutrinas dos apóstolos aprendidas com Jesus;
àqueles que não reconhecerem Jesus, o Filho de Deus enviado pelo Pai como seu Salvador pessoal,
àqueles de apostatarem, renegarem e abandonarem a sua fé por qualquer razão,
àqueles que blasfemarem contra Deus e seu plano de salvação, etc., e muitas outras razões.


Você poderá conjecturar; mas como isso é possível, se Deus diz que nos criou à Sua imagem e semelhança?
Isso quer dizer que fomos criados maus?  Não! Em absoluto!

Podemos inferir na linguagem bíblica o seguinte: quando Deus afirma que temos a Sua imagem, significa que; como Ele, somos seres criados com  uma alma imortal, eterna.

Semelhantemente, quando afirma que somos semelhantes a Ele, significa que; somos seres criados com uma natureza polivalente, ou seja; inteligentes, sociais, intuitivas, morais, ativas, místicas, religiosas, criativos, produtivos, bondosos, criteriosos, sentimentais, amorosos, etc. etc.

O mal ao ser incorporado pela raça humana, tornou-nos passíveis de sofrer. Consequentemente,
perdemos nosso estado original de pureza, perfeição e bondade, e, passamos a sofrer por tantas razões, que torna-se uma tarefa ingente explicá-la.

Entretanto, podemos discorrer sobre a tribulação humana, a partir do momento que tivermos uma boa visão de sua ligação com o mal e vice - versa.(mais a frente veremos diversas razões).

Iniciaremos afirmando que foi conseqüência de uma desobediência. A Bíblia nos relata:
"Tomou, pois o Senhor ao homem e o colocou no jardim do Éden para  o  cultivar  e guardar,  e, lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comerdes, certamente morrerás."

Logo mais a frente, vemos a narrativa da criação da mulher, a partir da costela de Adão, porque entre todos os animais criados, não se achava nenhum idôneo que lhe pudesse auxiliar e fazer companhia. E
Deus fez cair pesado sono sobre Adão, e de uma costela deste, criou a mulher e lha trouxe e disse: esta agora é a sua mulher; ela é idônea, apta, perfeita, capaz,  e, será a sua companheira!

A tentação

Até aqui tudo ia bem, Adão vivia feliz com Eva e os animais no jardim (se bem que eles ainda  não
sentiam  desejo sexual, porque Deus ainda não despertara neles essa necessidade).

A Bíblia continua:
 "  Mas a serpente(Satanás travestido de serpente)... disse à mulher(ela não tinha recebido ainda do Senhor o nome Eva).
 É assim que Deus disse: Não comereis, nem tocareis de toda árvore do jardim?
(Vê-se claramente a intenção maligna, desvirtuando as palavras do Senhor que não disse:" ... de toda árvore do jardim comerás livremente, restringindo apenas uma em especial..." 

Respondeu-lhe a mulher:
" Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da  árvore
no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis , nem tocareis nele, para que não morrais."

Então, a serpente disse à mulher:

" É certo que não morrereis!(Acaso a serpente está no lugar de Deus para mudar-lhe as palavras?)
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes, se vos abrirão os olhos e como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal."

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvores desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.

Abriram-se então, os olhos de ambos; e percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira, e fizeram cintas para si."

(Podemos ver aqui nestas palavras, que seria verdadeiro o sentimento de ambos a respeito de conhecerem o mal, se desobedecessem - perceberam que estavam nus - o que até então não percebiam  "... se vos abrirão os olhos e como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal ."

Muitos escritores não querem ou não desejam ligar o sofrimento humano a Deus ou vice-versa, em parte porque desejam eliminar Deus da vida humana, em parte porque afirmam que se Deus é bom,
não poderia deixar a humanidade sofrer.

Esses questionamentos são tão complexos, que precisamos nos ater aos pontos simples e diretos sobre o assunto, sob pena de divagarmos por muitas indagações relativistas, sem chegar a lugar algum.

Assim sendo; vamos estabelecer certas prioridades sobre a questão: o sofrimento! Logo, queremos saber Por que? Aqui temos uma indagação tão crucial que precisamos comentá-la.
A resposta simples já dada  é que se trata de conseqüência do mal que entrou no coração do homem
lá no Paraíso.

A permissão da maldade

A maldade existe e é maligna! Ela não vem de Deus! Outras perguntas nos ocorrem.
Por que esses males existem? Por que Deus permite tais condições, sabendo de antemão que acontecerão, sendo possuidor do poder de impedi-los?
Antes de tudo, por que Ele permitiu que o mal entrasse no coração humano, se Deus é inteiramente bom?

O que estamos tentando explicar a ver aqui, tem um nome. TEODICÉIA. Teodicéia é uma palavra que vem de duas raízes no grego: Theos(Deus) e Dike(justiça), significando é claro; justiça de Deus.

Tanto a teologia como a filosofia, usam este termo que designa a controvérsia sobre como podemos conciliar a existência do mal com a bondade de Deus.

Leibnitz usou o termo pela primeira vez em 1710.

Em suma; a Teodicéia é a teoria para justificar a bondade de Deus em vista da existência de maldade no mundo.

Esta palavra também designa o ramo da filosofia que trata do ser, das perfeições e do governo de Deus, e da imortalidade da alma.

Teorias filosóficas

Epiceno, filósofo grego, influenciado por Demócrito e outros  criou uma escola filosófica em Atenas em 306 a.C.  Ele ensinava e vivia de modo simples e austero, enfatizando acima de tudo os prazeres mentais em detrimentos dos prazeres físicos. Influenciado por diversos filósofos criou sua própria filosofia baseada em três pontos: GNOSIOLOGIA , METAFÍSICA E ÉTICA.



Ele era extremamente DEISTA, isto é; pregava que se existe Deus ou alguns deuses eles não se interessam por nada que ocorra ao ser humano.  Mas, dizia ele:
"...eles estabeleceram leis naturais para "controlar os acontecimentos", ao mesmo tempo que ele cria na "lei do acaso", sobre os fatos da vida e sobre todas as coisas vivas.

Considerava ainda que;
"coisa alguma está determinada", os homens seriam livres para fazer o que bem quisessem e os deuses nunca interfeririam.

Citamos Epicuro para mostrar quão antigo e complexo o problema do sofrimento, pois ele dentro desta filosofia  já em 306 a.C., dizia:

"Ou Deus deseja remover o mal deste mundo mas não pode fazê-lo; ou
Ele pode fazê-lo mas não quer. Ou não tem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo ou, finalmente,
Ele  tem tanto a capacidade como  a vontade de fazê-lo, mas não faz, e isto mostra fraqueza, o que é contrário à Sua natureza.

Se Ele tem a capacidade mas, não a vontade de fazê-lo, então Deus é mau, e isto também é contrário
à Sua natureza. Se Ele não tem nem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo então Deus ´ é ao mesmo tempo impotente e mau e, conseqüentemente não pode ser Deus.

Mas se Ele tem tanto a capacidade como a vontade de remover o mal do mundo(a única posição coerente com a natureza de Deus), de onde procede o mal ?(unde malum?), e por que Ele não o impede?

Neste momento, o que posso afirmar é que Epicuro com suas teorias sobre Deus, tentava definir o indefinível! Tentava  definir Deus! Ao mesmo tempo ele reduzia(talvez sem o saber), Deus ao universo restrito do pensamente humano, diminuindo-o para poder extrair dele uma resposta a altura dos conceitos e necessidades humanos.

Ora, a criatura jamais pode discorrer sobre o Criador(exceto o que Ele mesmo fala de si mesmo em Sua Palavra). O Criador é infinito e a  criatura é finita, limitada.

O finito não pode explicar o infinito! Tudo o que conhecemos sobre Deus é o que Ele nos revelou sobre Si mesmo na Bíblia! Mal sabia Epicuro(e tantos outros hoje), que o Criador é Grandioso, Majestoso, Esplêndido demais para um ser tão pequeno e efêmero como nós somos.

Mal sabia Epicuro que a Deus o Criador não se questiona, não a ponto do enfrentamento ou de contenda.

Epicuro(como muitíssimos hoje), não tinha a menor noção da grandeza de Deus, em permitir dentro de Sua vontade permissiva, o mal, objetivando um bem maior!

No livro Pensamento Econômico e Social de João Calvino, ele declara com  base bíblica uma frase muitíssimo importante para esclarecer a questão do mal e conseqüentemente o sofrimento que atormenta a humanidade.

Com o já dissemos, o sofrimento é conseqüência do mal. E o disseminador do mal é Satanás, o maligno.



A palavra abalizada de Calvino sobre o assunto:

Ele declara:

" Satanás desempenha na Providência de Deus um papel muito especial.
Ele é Ministro de Sua ira para executar Seus juízos!
Em Dele se servindo, contudo Deus não comete Ele próprio o mal.
Deus não faz senão dirigir segundo seus desígnios o consentimento voluntário que o homem dá a Satanás!
Não somente Deus não participa do mal de que se serve, mas seu Amor faz com que a iniqüidade contribua para o bem de suas criaturas.
Aquele que é perfeita bondade, não sofreria que se fizesse o mal,  senão que sendo todo-poderoso pode do mal tirar o bem".


CEBIN – CENTRO DE ESTUDOS BÍBLICOS INDEPENTENTE
Ribeirão Preto/ 2005

Nelson M. Filho

Traduzir / Translate