O SOFRIMENTO
HUMANO
Introdução
"Porque todos os seus dias
são dores, e o seu trabalho desgosto..." Eclesiastes 2: 23
"Se eu falar, a minha dor
não cessa, se me calar, qual é o meu alívio? Jó 16: 6
É muito difícil falar sobre o
sofrimento humano porque não fomos criados para sofrer.
Embora a dor,
a angústia, e o sofrimento, sejam constantes na vida humana, nem sempre foi assim.
Então, por que ele é latente na
nossa vida?
A resposta é; o
sofrimento tem a ver com o mal!! Ele é resultado de numa atitude má tomada
pelo pai federal da humanidade-Adão, resultando na entrada do mal, na vida da
raça humana, como resultado direto da
desobediência de uma ordem do Criador à sua criatura lá no Jardim do Éden.
Estado natural
A desobediência maculou o estado de
pureza, bondade e incorruptíbilidade em que fomos criados,
tornando a raça humana, impura,
corrupta e má. Se cremos nisso ou não, pouco ou absolutamente
nada, importa porque esta é uma
verdade absoluta e indiscutível ESTABELECIDA PELO DEUS CRIADOR e é aceita como tal, pelo menos pela
totalidade das religiões cristãs ocidentais.
Entretanto, não há concordância
sobre essas afirmações bíblicas, uma vez que entre as religiões orientais, essas questões
são divergentes por muitas razões básicas, as quais citaremos apenas as
mais importantes:
primeiro - a
Bíblia não é aceita como Palavra de Deus;
segundo, a Bíblia
para eles é um livro recente se comparado com suas literaturas;
terceiro, porque a
Bíblia não fala em carma, reencarnação, e deuses que devem ser adorados;
quarto, porque ela
narra a história de um povo hebreu
desconhecido, em um continente distante, que pouco ou nada tem a ver com eles;
quinto, porque
fala de um plano divino de salvação da humanidade através de um Messias
desconhecido, que é inconcebível pelas suas religiões animistas, que entendem
ser o homem capaz de se aperfeiçoar e alcançar a plenitude( o Nirvana), por
conta própria;
sexto, porque esse
Messias seria único mediador capaz de redimir o ser humano, a partir do
arrependimento e confissão de seus
pecados, e isto é contrário às suas religiões panteístas, politeístas e
deístas, onde não existe a consciência de pecado, queda, necessidade de
arrependimento, redenção, etc.
sétimo, porque esse
Criador não faz acepção de pessoas, dá extraordinário valor a todos os seres
humanos, dá total valor à personalidade humana, e enaltece o caráter particular
de cada um, sem discriminação, separação por castas, divisões e subdivisões de
grupos, valorizando pessoalmente a todo e qualquer indivíduo de qualquer raça,
língua nação ou tribo, seja ele amigo ou
inimigo com base no AMOR ÁGAPE (que é o amor sacrificial - aquele amor no qual
Jesus morreu por toda a humanidade), distinguindo
a raça humana apenas em dois grupos; os crédulos e os incrédulos.
Tudo isto é contrário às
ideologias animistas, politeístas e
deístas orientais.
oitavo, porque
este plano salvífico narrado na Bíblia, apresenta dois destinos ao homem:
o CÉU, aos que perseverarem na
doutrina de Cristo até ao fim, apesar das lutas contra o mal, do sofrimento
quando ele ocorre, da angústia quando ela sobrevêm, da dor quando ela nos acomete, etc.,
e o INFERNO, àqueles que
rejeitarem as sãs doutrinas dos apóstolos aprendidas com Jesus;
àqueles que não reconhecerem
Jesus, o Filho de Deus enviado pelo Pai como seu Salvador pessoal,
àqueles de apostatarem, renegarem
e abandonarem a sua fé por qualquer razão,
àqueles que blasfemarem contra
Deus e seu plano de salvação, etc., e muitas outras razões.
Você poderá conjecturar; mas como
isso é possível, se Deus diz que nos criou à Sua imagem e semelhança?
Isso quer dizer que fomos criados
maus? Não! Em absoluto!
Podemos inferir na linguagem
bíblica o seguinte: quando Deus afirma que temos a Sua imagem, significa que;
como Ele, somos seres criados com uma alma
imortal, eterna.
Semelhantemente, quando afirma
que somos semelhantes a Ele, significa que; somos seres criados com uma
natureza polivalente, ou seja; inteligentes, sociais, intuitivas, morais, ativas,
místicas, religiosas, criativos, produtivos, bondosos, criteriosos, sentimentais,
amorosos, etc. etc.
O mal ao ser incorporado pela
raça humana, tornou-nos passíveis de sofrer. Consequentemente,
perdemos nosso estado original de
pureza, perfeição e bondade, e, passamos a sofrer por tantas razões, que
torna-se uma tarefa ingente explicá-la.
Entretanto, podemos discorrer
sobre a tribulação humana, a partir do momento que tivermos uma boa visão de
sua ligação com o mal e vice - versa.(mais a frente veremos diversas razões).
Iniciaremos afirmando que foi
conseqüência de uma desobediência. A Bíblia nos relata:
"Tomou, pois o Senhor ao
homem e o colocou no jardim do Éden para
o cultivar e guardar, e, lhe deu esta ordem: De toda árvore do
jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás, porque no dia em que dela comerdes, certamente morrerás."
Logo mais a frente, vemos a
narrativa da criação da mulher, a partir da costela de Adão, porque entre todos
os animais criados, não se achava nenhum idôneo que lhe pudesse auxiliar e
fazer companhia. E
Deus fez cair pesado sono sobre
Adão, e de uma costela deste, criou a mulher e lha trouxe e disse: esta agora é
a sua mulher; ela é idônea, apta, perfeita, capaz, e, será a sua companheira!
A tentação
Até aqui tudo ia bem, Adão vivia
feliz com Eva e os animais no jardim (se bem que eles ainda não
sentiam desejo sexual, porque Deus ainda não
despertara neles essa necessidade).
A Bíblia continua:
" Mas a serpente(Satanás travestido de
serpente)... disse à mulher(ela não tinha recebido ainda do Senhor o nome Eva).
É assim que Deus disse: Não comereis, nem
tocareis de toda árvore do jardim?
(Vê-se claramente a intenção
maligna, desvirtuando as palavras do Senhor que não disse:" ... de toda
árvore do jardim comerás livremente, restringindo apenas uma em especial..."
Respondeu-lhe a mulher:
" Do fruto das árvores do
jardim podemos comer, mas do fruto da
árvore
no meio do jardim, disse Deus:
Dele não comereis , nem tocareis nele, para que não morrais."
Então, a serpente disse à mulher:
" É certo que não morrereis!(Acaso
a serpente está no lugar de Deus para mudar-lhe as palavras?)
Porque Deus sabe que no dia em
que dele comerdes, se vos abrirão os olhos e como Deus, sereis conhecedores do
bem e do mal."
Vendo a mulher que a árvore era
boa para se comer, agradável aos olhos, e árvores desejável para dar
entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.
Abriram-se então, os olhos de
ambos; e percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira, e fizeram
cintas para si."
(Podemos ver aqui nestas
palavras, que seria verdadeiro o sentimento de ambos a respeito de conhecerem o
mal, se desobedecessem - perceberam que estavam nus - o que até então não percebiam "... se vos abrirão os olhos e como
Deus, sereis conhecedores do bem e do mal ."
Muitos escritores não querem ou
não desejam ligar o sofrimento humano a Deus ou vice-versa, em parte porque
desejam eliminar Deus da vida humana, em parte porque afirmam que se Deus é
bom,
não poderia deixar a humanidade
sofrer.
Esses questionamentos são tão
complexos, que precisamos nos ater aos pontos simples e diretos sobre o
assunto, sob pena de divagarmos por muitas indagações relativistas, sem chegar
a lugar algum.
Assim sendo; vamos estabelecer
certas prioridades sobre a questão: o sofrimento! Logo, queremos saber Por que?
Aqui temos uma indagação tão crucial que precisamos comentá-la.
A resposta simples já dada é que se trata de conseqüência do mal que
entrou no coração do homem
lá no Paraíso.
A permissão da maldade
A maldade existe e é maligna! Ela
não vem de Deus! Outras perguntas nos ocorrem.
Por que esses males existem? Por que
Deus permite tais condições, sabendo de antemão que acontecerão, sendo
possuidor do poder de impedi-los?
Antes de tudo, por que Ele
permitiu que o mal entrasse no coração humano, se Deus é inteiramente bom?
O que estamos tentando explicar a
ver aqui, tem um nome. TEODICÉIA. Teodicéia é uma palavra que vem de duas
raízes no grego: Theos(Deus) e Dike(justiça), significando é claro; justiça de
Deus.
Tanto a teologia como a
filosofia, usam este termo que designa a controvérsia sobre como podemos
conciliar a existência do mal com a bondade de Deus.
Leibnitz usou o termo pela
primeira vez em 1710.
Em suma; a Teodicéia é a teoria
para justificar a bondade de Deus em vista da existência de maldade no mundo.
Esta palavra também designa o
ramo da filosofia que trata do ser, das perfeições e do governo de Deus, e da
imortalidade da alma.
Teorias filosóficas
Epiceno, filósofo grego,
influenciado por Demócrito e outros criou uma escola filosófica em Atenas em 306 a .C. Ele ensinava e vivia de modo simples e
austero, enfatizando acima de tudo os prazeres mentais em detrimentos dos
prazeres físicos. Influenciado por diversos filósofos criou sua própria
filosofia baseada em três pontos: GNOSIOLOGIA , METAFÍSICA E ÉTICA.
Ele era extremamente DEISTA, isto
é; pregava que se existe Deus ou alguns deuses eles não se interessam por nada
que ocorra ao ser humano. Mas, dizia
ele:
"...eles estabeleceram leis
naturais para "controlar os acontecimentos", ao mesmo tempo que ele
cria na "lei do acaso", sobre os fatos da vida e sobre todas as
coisas vivas.
Considerava ainda que;
"coisa alguma está
determinada", os homens seriam livres para fazer o que bem quisessem e os
deuses nunca interfeririam.
Citamos Epicuro para mostrar quão
antigo e complexo o problema do sofrimento, pois ele dentro desta
filosofia já em 306 a .C., dizia:
"Ou Deus deseja remover o
mal deste mundo mas não pode fazê-lo; ou
Ele pode fazê-lo mas não quer. Ou
não tem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo ou, finalmente,
Ele tem tanto a capacidade como a vontade de fazê-lo, mas não faz, e isto
mostra fraqueza, o que é contrário à Sua natureza.
Se Ele tem a capacidade mas, não
a vontade de fazê-lo, então Deus é mau, e isto também é contrário
à Sua natureza. Se Ele não tem
nem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo então Deus ´ é ao mesmo tempo
impotente e mau e, conseqüentemente não pode ser Deus.
Mas se Ele tem tanto a capacidade
como a vontade de remover o mal do mundo(a única posição coerente com a
natureza de Deus), de onde procede o mal ?(unde malum?), e por que Ele não o
impede?
Neste momento, o que posso
afirmar é que Epicuro com suas teorias sobre Deus, tentava definir o
indefinível! Tentava definir Deus! Ao
mesmo tempo ele reduzia(talvez sem o saber), Deus ao universo restrito do
pensamente humano, diminuindo-o para poder extrair dele uma resposta a altura
dos conceitos e necessidades humanos.
Ora, a criatura jamais pode
discorrer sobre o Criador(exceto o que Ele mesmo fala de si mesmo em Sua Palavra ). O
Criador é infinito e a criatura é
finita, limitada.
O finito não pode explicar o
infinito! Tudo o que conhecemos sobre Deus é o que Ele nos revelou sobre Si
mesmo na Bíblia! Mal sabia Epicuro(e tantos outros hoje), que o Criador é
Grandioso, Majestoso, Esplêndido demais para um ser tão pequeno e efêmero como
nós somos.
Mal sabia Epicuro que a Deus o
Criador não se questiona, não a ponto do enfrentamento ou de contenda.
Epicuro(como muitíssimos hoje),
não tinha a menor noção da grandeza de Deus, em permitir dentro de Sua vontade
permissiva, o mal, objetivando um bem maior!
No livro Pensamento Econômico e
Social de João Calvino, ele declara com
base bíblica uma frase muitíssimo importante para esclarecer a questão
do mal e conseqüentemente o sofrimento que atormenta a humanidade.
Com o já dissemos, o sofrimento é
conseqüência do mal. E o disseminador do mal é Satanás, o maligno.
A palavra abalizada de Calvino
sobre o assunto:
Ele declara:
" Satanás desempenha na
Providência de Deus um papel muito especial.
Ele é Ministro de Sua ira para
executar Seus juízos!
Em Dele se servindo, contudo Deus
não comete Ele próprio o mal.
Deus não faz senão dirigir
segundo seus desígnios o consentimento voluntário que o homem dá a Satanás!
Não somente Deus não participa do
mal de que se serve, mas seu Amor faz com que a iniqüidade contribua para o bem
de suas criaturas.
Aquele que é perfeita bondade,
não sofreria que se fizesse o mal, senão
que sendo todo-poderoso pode do mal tirar o bem".
CEBIN – CENTRO DE ESTUDOS
BÍBLICOS INDEPENTENTE
Ribeirão Preto/ 2005
Nelson M. Filho